A manhã de Domingo, dia 3 de Maio, chegou depressa. Último dia destas
mini-férias, a nossa vontade era que o dia fosse o mais longo possível.
Assim,
levantámo-nos cedo, e ,depois do pequeno-almoço, rumámos a um dos miradouros mais turísticos do Gerês - a Pedra Bela. Fica a cerca de 4 km da Vila, na encosta este. A estrada, embora alcatroada, é muito estreita e sinuosa. Nesta vertente, abundam muitos pinheiros bravos.
A vista na Pedra Bela é, como não podia deixar de ser, fabulosa. Às dez da manhã ainda pudemos desfrutar da paisagem em algum sossego. No entanto, logo a seguir começou a chegar um enchente de gente, sobretudo
domingueiros que, mais do que vir conviver na Natureza, têm motivações diversas.
Às onze horas, regressámos à Vila, para ir utilizar, pela última vez, o SPA das Águas do Gerês. Depois de termos estado uns minutos no banho turco, aproveitámos ao máximo a piscina hidrodinâmica, com os seus jactos de água e os
jacuzzi com bolhas de ar. E foi óptimo, pois tivemos a piscina, praticamente, só para nós.
Depois de comprarmos uns "
recuerdos" - uns potes com mel supostamente do Gerês - e nos termos abastecido de umas frutas e umas sandes para almoço, o objectivo seguinte era ir revisitar a cascata do Arado.
A propósito das frutas, quero dizer que achei piada à simpática da velhota que me atendeu, não só pela maneira comercial de querer vender tudo e mais alguma coisa - prove, prove! não paga nada - mas também porque estando eu demorado à procura de trocos, pensando ela que eu não tinha dinheiro me disse: filho, se não puder, paga amanhã, que eu confio! Mal ela sabia que, "amanhã", já nós estaríamos bem longe.
Se calhar foi sorte, mas além de barata, toda a fruta estava muito boa, desde as uvas aos morangos (muito bons mesmo!).
Seguimos em direcção a Rio Caldo e cortámos à esquerda para Ermida, pois estava com receio de que a estrada da Pedra Bela para a cascata não estivesse em bom estado, o que depois verificámos não ser verdade.
Uns quilómetros a seguir a Ermida, fica o desvio para a cascata. Ainda nos aventurámos umas dezenas de metros, só que os buracos naquela estrada de terra batida eram tantos e tão grandes que decidimos parar o carro e, depois do almoço, seguir a pé. Seiscentos metros mais à frente, fica a ponte sobre o rio Arado.
Mais uma vez, um montão de gente. Tal outra coisa não seria de esperar num Domingo soalheiro mesmo a apetecer sair de casa. No entanto, tudo tem limites. E, às vezes, interrogo-me o que é que anda determinado tipo de gente a fazer por estas bandas. Na verdade, uma coisa eu sei - poluem. É um triste espectáculo ver, junto à ponte e nas bermas próximas do rio, a quantidade de lixo de toda a espécie, sobretudo plásticos e coisas afins. Será que não há a noção de que um simples plástico demora, pelo menos, quinhentos anos a decompor-se, e que o próprio processo vai contaminar toda a água e solos?
A cascata do Arado pode apreciar-se de vários sítios. O mais turístico é um ponto elevado da margem direita do rio, que se atinge subindo uma escadaria de cerca de uns 50 metros.
O outro é subindo o leito do rio e chegando à base da cascata.
Da primeira vez que aqui havíamos estado, era Verão e o rio levava menos água. Desta vez, chegar junto à cascata foi um pouco mais complicado. Tivemos que ir saltando de rocha em rocha no meio do rio, para não pormos os pés na água. A seguir tivemos que flanquear umas árvores na margem e, finalmente, a Graça decidiu descalçar-se para passar para um rochedo mais próximo da cascata. A água estava gelada, mas valeu a pena. O espectáculo é magnífico: o barulho, a água cristalina, os peixes (!) e os rochedos. Só um senão: se acontecesse algum percalço, estávamos por nossa conta, pois naquele sítio não há sinal de rede para telemóveis.
Depois do esforço todo, sobretudo para mim (que não estou habituado a estas andanças), regressámos à Vila do Gerês pela Pedra Bela - afinal a estrada estava boa - para seguirmos para o último destino: o miradouro da
Junceda.
Para ir para este miradouro, é seguir na estrada que vai para
Covide e, pouco antes, corta-se à direita e é seguir 3 km por uma estrada de terra batida, que é de por os nervos em franja tal é a quantidade de buracos, covas, valas, etc que aquilo tem. Coitado do nosso pobre carro!
Mas vale a pena. A paisagem até chegar ao miradouro é tipicamente granítica, tipo Cidade da Calcedónia. Rochas e prados verdes pelo meio.
O miradouro da
Junceda parece estar em obras (pagas pela Comunidade Europeia), mas ao mesmo tempo abandonado. Mais uma vez, a vista é soberba. Este miradouro fica do lado oeste relativamente à Vila do Gerês, a qual se vê em toda a extensão. Pelas rochas deste miradouro abundam as lagartixas, que aproveitam o calor do final do dia. Dada a hora tardia e, se calhar, a dificuldade em lá chegar, éramos os únicos visitantes a gozar do "silêncio" da floresta, apenas quebrado pelo canto de um cuco a fazer cu-cu.
No regresso, e já na descida para
Covide ainda tive tempo (finalmente) de filmar o voo de uma ave de rapina, que, logo que tenha tempo, colocarei neste blog.
Observar aves de rapina é um dos prazeres que me dá. A Graça já não acha tanta piada a isso, mas não evita apanhar umas secas de vez em quando. Não é que eu perceba muito do assunto, apesar de já conseguir saber quando são abutres ou não. Mas ver aqueles animais em plena liberdade, lá no alto, é mesmo delicioso. É pena o que os espera cá em baixo. Fico mesmo de coração nas mãos quando leio notícias da morte destes animais pelo método mais cobarde e traiçoeiro - o envenenamento. Uma notícia que me deixou muito triste foi a de o macho do último casal de águia-real na Serra do Gerês ter aparecido morto. Isto, creio que foi há dois ou três anos.
Bons sítios onde já tive oportunidade de fazer filmagens (amadoras, claro!) interessantes:
El Rocio (
Doñana), Vale do Ebro (perto de Burgos), Parque Nacional de
Monfrague (
Cáceres) e Penedo Durão (Freixo de Espada à Cinta).
O regresso a Lisboa, fez-se pela estrada que passa em São Bento da Porta Aberta, junto à albufeira do Cávado. Aproveitámos para jantar numa pequeno restaurante tipo
churrasqueira e não nos arrependemos.
As últimas fotos foram feitas com a pouca luz do final do dia, espelhada na água e nas silhuetas daquelas montanhas que encerram, provavelmente, a natureza mais selvagem de Portugal. Este fim-de-semana foi só um aperitivo, pois prometemos voltar.