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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Férias na Madeira - Parte III - Ponta de S. Lourenço


No segundo dia de férias na pérola do Atlântico, o sol quente de Junho convidava a um passeio pela ilha. A ideia seria ir até à Ponta de S. Lourenço até à hora do almoço, e depois subir ao Pico do Areeiro. Isto eram os planos, mas em férias, os planos são alterados conforme as circunstâncias.
Com a via rápida, do Funchal até ao Caniçal, são pouco mais de vinte minutos. Depois de andarmos algo perdidos pelas ruas da povoação, seguimos em direcção à Ponta de S. Lourenço. 


A estrada leva-nos ao miradouro da Prainha, onde podemos observar a praia com o mesmo nome - provalvelmente a única praia (não artificial) de areia na ilha da Madeira - e o monte onde se situa a  capela da Piedade. Não fosse o tempo a voar e daríamos um mergulho naquelas águas azuladas.  


Do miradouro podemos avistar ao longe as ilhas Desertas com uma boa visibilidade, o que nem sempre acontece.


A seguir, surge-nos o miradouro da Ponta do Rosto. Aqui estamos voltados para a costa Norte, e nalguns sítios, o vento quase que nos leva pelo ar.


A ponta de S. Lourenço é uma espécie de península que termina com dois ilhéus, com uma orografia muito peculiar. As encostas a norte são autênticas paredes verticais que se precipitam sobre o mar.

 Deste miradouro podemos ver a diferença do mar dos dois lados do istmo da península. A uma calmaria a sul, Neptuno não dá descanso a norte. E os madeirenses também aproveitam a energia do vento.

Pormenor das impressionantes falésias de origem vulcânica, constituidas sobretudo por basalto. As fotos dão apenas uma ideia da dimensão e da beleza destas arribas.


A atmosfera estava tão limpa que deu para fotografar a ilha de Porto Santo, a 40 km de distância.


A estrada alcatroada termina num parque de estacionamento já com vistas para a baía d'Abra. É aqui que começa o trilho P8. Este percurso leva-nos até à Casa do Sardinha, no meio da Reserva Natural da Ponta de S. Lourenço.
Era cerca de meio dia, e a ideia inicial era explorar o caminho, no máximo, durante uma hora, isto é, meia hora para ir e outra meia para voltar. Já sabiamos que não iriamos fazer a rota toda, pois a placa indicava 8 km (ida e volta). Assim, estacionamos o carro e iniciamos a caminhada. Os primeiros metros são acessíveis e estão relativamente bem cuidados, havendo até uma enorme escadaria de madeira que nos facilita a subida da primeira encosta.


Quando chegamos a cimo da encosta, já podemos admirar melhor todo o esplendor da baía d'Abra, com algumas pequeníssimas praias de calhaus cinzentos e pretos.


E com falésias espectaculares como esta.


A vereda leva-nos a um miradouro em muito mau estado (pelo que é necessário ter muito cuidado), mas onde se podem observar rochedos como este, a lutar contra as ondas puxadas pelo vento de norte.



Ou o contraste destes castanhos avermelhados com o azul marinho do oceano Atlântico.


Neste local só se ouve o barulho das ondas e do vento. A natureza vulcânica da ilha está bem à vista.


Foi a partir de aqui que tomamos a decisão de continuar até à Casa do Sardinha. Já que estávamos ali, porque não continuar? Só que nos esquecemos de algo essencial: mais do que não ter comida, não tinhamos água e em breve eu (Paulo) iria passar mal por causa disso.


O que parece já ali tão perto, afinal não está assim tão próximo. A vereda ondula ao longo da encosta sul da península e acaba por parecer extensíssima. Sobretudo, com o sol a pique e a sede que começa a apertar. 


No meio daquele deserto a vida arranja sempre maneira de se desenvolver. A ponta de S. Lourenço é completamente diferente do resto da ilha da Madeira. A aridez , provocada pela agreste ventania que sopra principalmente de norte, contrasta com a luxuriante vegetação abundante na Madeira. S. Lourenço tem tantas afinidades com Porto Santo que até parece que estamos nessa ilha. Quando chove nas estações mais frias, as ervas, que agora estão secas, dão um colorido verde à paisagem. Mas, em Junho, é plena desolação.  


Há uma zona, que atravessa o que parecem ser restos de lava, em que o trilho deixa de estar marcado, reaparecendo mais à frente.


Aspecto colossal da Ponta do Castelo.


Mais vida que teima em resistir à aridez do terreno.


Neste sítio, mais do que em qualquer outro local da Madeira, a combinação do mar e da terra impressiona pela sua relação de luta vigorosa e permanente.


Este local está mais ou menos a meio caminho do percurso. Ao longe, à esquerda da foto, está o parque de estacionamento onde deixamos o carro, do outro lado da baía d'Abra. 


A caminho da Casa do Sardinha e com o Pico do Furado ao fundo. Parecia tão perto, mas ainda estava longe.


Finalmente chegamos ao início do percurso circular que passa pela Casa do Sardinha.


Quase a chegar à Casa do Sardinha, depois de mais de duas horas de caminhada, a sede era tanta que já nem dava para apreciar a paisagem como devia ser. Mas não fosse a Graça a pedir água ao único funcionário da reserva que lá estava, acho que teria morrido de sede.


A Casa do Sardinha é uma espécie de oásis no meio do deserto. Serve de posto de atendimento da reserva natural da Ponta de S. Lourenço. Tem casa de banho, bancos para descansar, vendem pequenas bugigangas, mas é incrível como é que não fornecem água. Mas, claro, só malucos como nós é que vamos para uma caminhada de mais de quatro horas sem água. Quanto às palmeiras, é evidente que foram lá postas. Outra nota: é impressionante a quantidade de lagartixas que andam por todo o lado. Para nos sentarmos a descansar, primeiro temos de as afugentar.


Ligeiramente restabelecidos do calor , e para podermos dizer que fizémos o circuito completo, subimos ao Pico do Furado. Subida que requer muito esforço devido à inclinação da encosta.


Mas, a ascensão compensa pelas vistas. Podemos admirar toda a beleza da baía d'Abra, com o azul intenso do mar a contrastar com o amarelo seco da vegetação rasteira e o castanho-vermelho da aridez do terreno da Ponta de S.Lourenço.  


Do cimo do Pico do Furado também podemos ver os ilhéus da Cevada e de Fora. São reserva natural integral.


A esta hora, cerca das 15h00, já o Sol tinha rodado em relação à posição de quando começamos a caminhar. Mais uma vista da ponta de S. Lourenço e do resto da Madeira, com o Caniçal ao centro.


Foi no ilhéu da Cevada, também conhecido pelo de Desembarcadouros, que João Gonçalves Zarco, um dos descobridores da Madeira, aportou pela primeira vez na ilha.


Esta ponta tem o nome de S. Lourenço por causa do nome da caravela de João Gonçalves Zarco  que ao aproximar-se deste sítio gritou "ó São Lourenço, chega!".

Do cume do Pico do Furado conseguimos ver alguns pormenores das ilhas Desertas.


No regresso, continuamos a apreciar os aspectos geológicos deste sítio magnífico.


Ao completar o percurso circular da Casa da Sardinha, podemos observar o oásis (sem água) e a vertente sudoeste do Pico do Furado.


Apesar de estarmos com pressa, pois com o calor, a sede era muita, não deixavamos de  continuar a olhar para trás.


A ponta de S. Lourenço é mesmo um mundo à parte. A aridez do sítio, conjugada com enormes ravinas compostas por rochas nuas expostas à fúria dos elementos, torna a paisagem numa tipicamente lunar.


Às quatro e meia da tarde ainda faltava mais de 1 km para chegarmos ao local de partida. Parece que no regresso o caminho é sempre mais comprido.


Finalmente chegados ao estacionamento, tivémos uma surpresa agradável. Tinhamos à nossa espera uma roulotte de bebidas e comidas, para fazer negócio com a quantidade de aventureiros que andam por aquelas bandas. Acho que nunca bebi uma garrafa de água gelada tão rapidamente como dessa vez. O passeio que era para ser de uma hora, durou quase cinco. Quase que morri à sede. Um disparate para não repetir. Mas o percurso vale mesmo a pena. É uma faceta da Madeira completamente diferente e que só a valoriza, pois a paisagem é magnífica. Só foi pena não termos dado um mergulho. Esse foi a seguir na banheira de hidromassagem do spa do hotel, uma hora depois. 


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Praia da Ursa - Colares (Sintra)

Este último Domingo à tarde serviu para conhecer a praia da Ursa. É uma das maravilhas, provavelmente pouco conhecida da maioria das pessoas dada a dificuldade em lá chegar, do concelho de Sintra. É uma praia com alguma extensão situada entre os rochedos do cabo da Roca e os penhascos contíguos à praia da Adraga. As únicas formas de lá chegar são o barco ou um íngreme caminho de cabras com um desnível de mais de oitenta metros, seguramente. 


Quando passamos Azóia em direcção ao cabo da Roca, há uma placa a dizer "Ursa". Estacionamos o carro num pequeno largo e seguimos a pé por uma caminho de terra batida. Uns seiscentos metros mais à frente, iniciamos a descida para a praia. Logo desde o alto que a vista é esplêndida, com o azul do mar, a Ericeira ao longe e os dois enormes rochedos esbranquiçados do lado norte da praia.


Depois de mais de 15 minutos a descer, pois é preciso ter muito cuidado para não escorregar, dado que há muitas pequenas pedras soltas, chegamos a uma praia cuja sensação é de que se trata de uma praia virgem. Não é bem assim, pois havia alguns aventureiros a apanhar sol e até dois a banharem-se, mas pelo facto do areal estar isolado, sentiamos que estavamos num lugar a muitos quilómetros da civilização.


Àquela hora, a maré estava vazia, pelo que se formaram alguns pequenos lagos por entre os rochedos. A agitação das ondas estava lá um pouco mais à frente.


Podemos observar a força do mar neste amontoado de grandes blocos rochosos espalhados pelo areal. Estes enormes penedos mais resistentes são um paraíso para as aves, sobretudo gaivotas, mas não só.


Para o lado sul da praia, fica a encosta do cabo da Roca. Aqui, as ondas veem embater violentamente contra as duras rochas que com o tempo vão acabar por perder a batalha da erosão.


O por-do-Sol acaba por ser um espectáculo muito interessante de observar.


Valeu a pena o esforço de descer (e depois subir) para termos a impressão de estarmos na praia mais solitária desta zona de Lisboa, apenas com o barulho das ondas e das gaivotas por companhia.


O nome curioso de Ursa não  sabemos o porquê. Mas podemos especular. Será que é por causa da silhueta deste rochedo?


Ou será que é por causa deste aqui, o mais emblemático da praia, devido ao tamanho e à cor clara.


Curioso também este aglomerado de pedregulhos que se desprenderam dos enormes penhascos que rodeiam a praia. 
O pior foi mesmo a subida, pelo menos para mim (Paulo). Estou mesmo a precisar de fazer exercício físico. Quando chegamos ao carro já era noite escura. O que valeu foi que havia algum luar. 
Recomendamos vivamente a visita a este lugar selvagem ainda quase intacto e que, incrivelmente, fica aqui tão perto de Lisboa.