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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tapada Nacional de Mafra

A tarde do último Domingo foi passada na Tapada Nacional de Mafra.
São mais de mil hectares de floresta a pouco mais de 40 km de Lisboa. Uma autêntica zona verde livre de construções, numa região onde  os índices de construção estão a aumentar a um ritmo frenético.
Mas, ao contrário de muitas florestas, além da vida vegetal, abunda a vida animal e, mais importante, em liberdade!

Nunca tinhamos estado num sítio (sem ser em jardins zoológicos ou afins) em que víssemos tanto gamos a passearem-se à vontade. Para além destes cervídeos, também há javalis e outros mamíferos mais pequenos como genetas e saca-rabos. Os veados estão em cercados. Há também um exemplar de lobo ibérico, já com 13 anos, num cercado só para ele. Veio do Centro de Recuperação do Lobo da Malveira, que fica ao lado da Tapada.

Há vários percursos que se podem fazer a pé. No entanto, a maneira mais expedita para ficar a conhecer a Tapada é seguir no "comboio" articulado. A viagem demora cerca de 2 horas. Normalmente há um de manhã  e outro à tarde, todos os dias. O bilhete não é barato (10 euros por pessoa), mas vale a pena. Há duas paragens. Na primeira ficamos a conhecer exemplares de carros de tracção animal - carruagens e coisas parecidas.
Na segunda, que fica num ponto elevado da Tapada, podemos visitar o museu da Tojeira onde observamos alguns animais mumificados que habitam por aquelas bandas. Também podemos ver casais de genetas e saca-rabos (foto abaixo) num pequeno espaço, pois são animais mais difíceis de ver em liberdade.
A Tapada tem um muro (daí o nome) com 21 km de comprimento em todo o perímetro. Sofreu um grande incêndio em 2003 que reduziu a cinzas uma boa parte da floresta. No entanto, os responsáveis procederam a uma recuperação dos estragados. Já foram reflorestados mais de 400 hectares. Sobreiros, carvalhos, carrascos, plátanos, pinheiros mansos, são espécies benvindas. Os eucaliptos têm os dias contados.

Cerca de trezentos hectares estão vedados ao público, pois são para uso militar. Deve ser onde as tropas brincam aos soldados. Os outros oitocoentos e tal estão dividos em duas zonas.
A Tapada é atravessada por uma ribeira que só tem água corrente em tempo de chuvas. Há , pois uma diferença na vegetação dessa zona, em relação aos sítios mais elevados, onde é mais sêca



Existem mais de trezentos gamos em liberdade. Para controlar a população dentro de limites aceitáveis, até porque não existem predadores naturais, é practicada caça selectiva, sob o controlo rigoroso dos guardas da Tapada. Normalmente, são abatidos os animais mais fracos.

As hastes dos gamos demoram cerca de 4 meses a crescer. A sua robustez depende de vários factores, entre os quais, o cálcio ingerido. Umas hastes defeituosas significam que o macho nunca conseguirá acasalar. Em geral, estes animais são seleccionados para serem caçados.
Em vários pontos do parque existem comedouros onde os animais também se alimentam, de forma a colmatar escassez de comida em determinadas alturas do ano. Nalguns sítios, são acrescentados suplementos de cálcio.

 
A Tapada nesta altura do ano é lindíssima. As cores das folhas das árvores, o barulho dos pássaros, a vida animal, parece que recuàmos 300, 400 ou 700 anos. Parece que regressàmos á Idade Média. A Tapada faz-nos lembrar os filmes do Robin dos Bosques na floresta de Sherwood, tipo estou com fome, vou ali caçar um veado ou um javali e já volto.
 
A Tapada foi mandada construir no século dezoito pelo rei D. João V para seu usufruto pessoal. Parece que não teve tempo para a usar muito tempo. Um dos nossos reis que se fartou de andar por lá  foi o D. Carlos I. Em cima podemos ver uma foto de um chalé do tempo dele. Parece que o homem gostava bastante daquilo. Sobretudo de caçar, mas sentado. Existem umas estruturas em pedra onde o Rei se sentava com a espingarda. Os criados tinham o trabalho de espantar a caça em direcção ao Rei e este só precisava de apontar e disparar. A floresta da Tapada servia também como fornecedora de lenha e cal que era fabricada lá.

Na foto acima, temos a mascote da Tapada que é uma javalina com 17 anos de idade e que ainda agora teve mais uma ninhada de pequenos javalis. Este ano há muita bolota, pelo que os javalis são mais difíceis de observar. Mas esta sénior não tem qualquer medo e está mais interessada em comer. Aliás, ém impressionante a forma como estes bichos usam o focinho.
 
Recomendamos vivamente uma visita à Tapada. É fácil chegar lá, seja a partir de Mafra, seja a partir de Torres Vedras. Gradil é a povoação mais próxima. Mais informações no site oficial http://www.tapadademafra.pt/.
Para terminar o dia, pudémos assistir a mais um magnífico por-do-Sol deste Outubro anormalmente quente.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Serro de Penhas Juntas

Aproveitámos o feriado do aniversário da implantação da República para dar uma escapadela até Torre de Dona Chama em Trás-os-Montes.
A vila de Torre de Dona Chama é a terra onde eu (Paulo) nasci, já lá vão quase 39 anos. É onde vivem os meus pais e a minha irmã mais nova. Fica cerca de 20 km para norte de Mirandela.
Apesar de ser quase sempre auto-estrada (ainda há o IP3 e uma parte do IP4), a viagem é ainda um "esticanço", de pelo menos 5 a 6 horas. Mas vale a pena, para além das razões familiares, pois a paisagem transmontana é uma paisagem de contrastes, e vale pelos vastos horizontes que se alcançam.
Na manhã da véspera do feriado resolvemos aventurar-nos à descoberta do Serro de Penhas Juntas.
O Serro de Penhas Juntas é uma montanha de cerca de 5 km de comprimento, e atinge uma altitude de cerca de 850 metros acima do nível do mar. O interessante é que o topo é constituído por formações rochosas parecidas com cristas. A encosta sul está cheia de pedregulhos que se foram soltando do cume.
Parece que o Serro tem alguns vestígios de povoamento antigo, mas não os encontramos.
O Serro é bem visível da estrada que liga a Torre até Bragança e que atravessa a Serra da Nogueira. As últimas vezes que lá passamos, fiquei sempre com vontade de subir ao topo, mas só agora é que nos "deu na telha" lá ir.
O tempo não parecia ser muito favorável, pois ameaçava chover. No entanto, a meio da manhã, começou a abrir.
Apesar de não termos planos totalmente definidos, o objectivo era seguir de carro por uma estrada de terra batida que contorna a montanha. E, depois, seguir a pé até ao cume. O problema de não termos um jipe todo -o-terreno, é que nos arriscamos a ficar entalados num caminho qualquer. Isto de ir à aventura tem sempre os seus prós e contras. Os contras é que nunca sabemos bem o que vai acontecer.
Esse Domingo, foi o primeiro dia de caça do Outono. Por todo o lado se ouviam tiros e latidos dos cães.
As aldeias mais perto do Serro são Falgueiras e Penhas Juntas. O Serro é uma espécie de fronteira entre a Terra Quente e a Terra Fria. Aqui acabam as oliveiras e começam os castanheiros.
Antes de chegar a Penhas Juntas, virámos à esquerda para um estradão de terra batida e 2 km à frente, depois de passarmos por um campo de castanheiros, começamos a subir a encosta norte do Serro. Este caminho contorna a encosta e depois começa a descer pela parte sul. Estacionamos o carro, e seguimos a pé.
Ao contrário da encosta norte, cuja vegetação é muito cerrada, não havendo qualquer hipótese de a atravessar, a zona sul tem uma vegetação mais rasteira. Mesmo assim, a subida não foi pêra doce, tendo em conta a inclinação da encosta. A parte pior foi quando tivemos que passar pela vegetação entre as rochas para chegar ao cimo.
No topo, a vista é de cortar a respiração.
A descida fez-se pelo mesmo caminho.
Voltamos ao carro e seguimos pela estrada de terra batida, que até ali até nem estava muito mal.
A ideia era seguir até às Falgueiras e apanhar de novo a estrada nacional e, claro, ir almoçar, que já se fazia tarde.
A seguir aparecem bifurcações e tivemos que seguir a nossa intuição para descobrir o caminho certo. O pior foi quando a estrada (já não era bem uma estrada) começa a descer para um vale com uma inclinação que me assustou. Tive que parar, e ir a pé cerca de 1,5 km para ver onde ia dar e se estava em condições. É que, a seguir à descida abrupta, seguia-se uma subida com inclinação quase igual. Além disso, voltar para trás estava fora de questão, pois já nos encontrávamos a meio da descida e a manobra parecia complicada. Não estava calor, mas fartei-me de transpirar, só de pensar que só já saia dali de reboque.
Muito devagar, lá descemos até ao fundo e, depois em primeira, o Seat Toledo 1.9 TDi mostrou que, apesar dos 200.000 km, ainda está para as curvas, fazendo a subida melhor do que eu pensara.
Afinal não foi necessário chamar o reboque e o almoço também não arrefeceu.

Na primeira parte do percurso, demos com um campo de castanheiros. Mas, os ouriços ainda não estavam abertos.
Aspecto do campo de castanheiros, atravessada pela estrada de terra batida.

O caminho que liga o Serro a Falgueiras. Foi aqui que o Seat Toledo mostrou o seus dotes de todo-o-terreno.
As cristas rochosas no topo do Serro.

A encosta que nos levou da estrada até ao cimo do Serro. São cerca de 250 metros sempre a subir.

Ao longo da encosta encontramos várias rochas que se soltaram do topo.

Podemos observar diferentes tipos de vegetação conforme o terreno e as condições do mesmo.
A zona norte é xistosa e abundam as urzes. Na zona granítica predominam as giestas.

Aqui podemos ver o espaço entre as fragas que nos permitiu aceder ao topo.


Dois blocos graníticos que se soltaram dos rochedos.

Ao chegar às rochas do topo, podemos ver o aspecto gigantesco das mesmas.

A rocha em pormenor.

Para norte, fica a aldeia de Penhas Juntas e o início da Serra da Nogueira.


A vista do topo é magnífica.


Vista das rochas que foram resvalando pela encosta ao longo de milhões de anos.

As encostas do Serro eram despidas. No entanto, desde há vinte anos que se têm florestado determinadas zonas.

Aspecto de uma das cristas vista de cima. Estas cristas estendem-se ao longo de mais de 5 km desde as encostas da Serra da Nogueira até ao vale do rio Tuela.

Ao fundo vemos a estrada onde deixamos o carro. Podemos ver as diferenças na vegetação em função do terreno e das linhas de água.

Nas cristas rochosas existem diversas cavidades naturais que podem eventualmente ter sido aproveitadas pelos povos primitivos que ocuparam esta zona.

Apesar de ser Outono, ainda se podem observar algumas plantas em flor.

Ao descermos para as Falgueiras encontramos medronhos selvagens, alguns prontinhos para comer. Foi a primeira vez que comi medronhos e estavam muito bons. Aliás, deu para trazer alguns para comer mais tarde. De repente, dei comigo a fazer parte do Age of Empires, onde o jogo começa por controlarmos civilizações no início, onde os habitantes são caçadores-recolectores.

Esta é a vista que se tem do Serro, desde as Falgueiras.


Vista panorâmica da zona de topo do Serro por onde nos aventurámos.

Panorâmica para sul - podemos ver, da esquerda para a direita, Falgueiras, Agrochão e Ervedosa.

Parte da encosta sul do Serro. Aqui podemos ver a extensão das cristas.